Paz interna
***
_ Senhor, está pronto para saber o resultado do seu exame?
_ Sim, manda bala.
_ Bem, vamos ver o que temos aqui. Hmmmm...
_ O que foi doutor?
_ Olha, não sei como dizer isso. Você tem diabetes...
_ E o que mais?
_ Não se preocupe, hoje em dia o diabético...Epa, peraí, o senhor já sabe?
_ Saber não eu não sabia. Mas lamentos não vão fazer a doença sumir, vão doutor?
_ Não, claro que não...
_ Então não adianta reclamar. Continue.
Sem jeito, o médico tomou o exame em mãos e tornou a analisar os resultados.
***
_ E aí cara? Como tá seu boletim?
_ Quer ver?
_ Vamos dar uma olhada... Putz! Que merda hein? Você ficou de exame por meio ponto?
_ É, foi por pouco. Mas fazer o quê!
_ Hã? O quê? Quero dizer, você não vai reclamar? Você nem parece zangado...
_ Eu não. Não é nada demais.
_ Mas você vai passar as férias estudando! Você está feliz com isso?
_ Não, mas reclamar não vai fazer nota cair do céu, vai?
_ Errr...não.
***
_ Por onde você andou? Não te encontro há dias...
_ Desculpa, ando muito ocupado...
_ Você sempre anda ocupado não é? Nunca tem tempo pra mim... Faz mais de um mês que não nos falamos direito! Nem sei porque ainda namoro você.
_ A culpa não é minha. Não fico ocupado porque quero ou porque gosto.
_ A culpa nunca é sua! Já chega. Acabou!
_ Se você quer assim, sem problemas.
_ O quê? Você não vai falar nada?
_ Eu não. Você sempre foi muito decidida, não adianta tentar fazer você mudar de idéia.
_ Ah...Mas...
_ Espero que você seja feliz. Até algum dia.
***
_ Até que enfim você veio. Você anda mais que notícia ruim, credo. Às vezes parece que eu moro sozinho.
_ É verdade, aliás eu não só ando como notícia ruim mas também recebo um monte.
_ Você não tem cara de quem teve um dia ruim.
_ Peraí! Existe cara de quem tem dia ruim??
_ Ah, existe mais ou menos. O cara fica pra baixo, meio deprê ou com mal-humor ou...
_ As pessoas reagem de maneiras diferentes às coisas. Você faz psicologia, deveria saber.
_Calma, só fiz um comentário. Mas então, o que fez hoje?
_ Fui ao médico logo cedo. No exame deu que eu tenho diabetes. À tarde fui na escola pegar meu boletim, fiquei de exame por meio ponto. E agora pouco a Carla terminou comigo.
_ Putamerda meu! Que dia! E você aí como se nada tivesse acontecido...
_ Não adianta ficar revoltado com meio mundo. Isso não vai mudar nada. Você não acha? O negócio é empurrar com a barriga e manter o bom-humor.
_ É, você está certo. Mas , sei lá. Você é calmo demais...
_ Pode até ser. Mas eu sou assim. Você sabe. Escuta, cadê minhas batatinhas?
_ Batatinhas? Que mané batatinhas, cara?
_ Minhas Ruffles que costumavam ficar na dispensa! Onde estão?
_ Ah! Ruffles! Fala como gente cara.
_ Para de implicar, vá! Onde elas estão?
_ Eu comi.
_ Você o QUÊ?